Em uma assembleia anual da Organização Mundial de Saúde (OMS) marcada pela disputa entre Washington e Pequim, e a primeira realizada virtualmente em sua história, vários países exigiram, nesta segunda-feira, que uma futura vacina contra o novo coronavírus seja um “bem público”. A Covid-19 já infectou mais de 4,7 milhões e matou mais de 318 mil pessoas em todo o mundo, com sérias consequências para a economia global.
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Refutando as acusações, o presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que seu país “sempre” mostrou “transparência” e “responsabilidade”, compartilhando informações com a OMS e outros países em tempo hábil. Nesta segunda-feira, em mensagem em vídeo à reunião da OMS, ele prometeu compartilhar uma eventual vacina produzida na China e alocar US$ 2 bilhões para a luta global contra a Covid-19, especialmente nos países em desenvolvimento.
— Qualquer eventual vacina desenvolvida pela China se tornará um bem público global, acessível e disponível nos países em desenvolvimento — disse. — A China trabalhará com os membros do G-20 para implementar a iniciativa de alívio da dívida para os países mais pobres.
A assembleia da OMS, que deve durar dois dias, discute uma resolução promovida pela União Europeia (UE) que defende o acesso equitativo a futuros medicamentos e vacinas contra a Covid-19. A resolução pede uma “avaliação imparcial, independente e abrangente” da resposta internacional à crise, e propõe o lançamento “o mais rapidamente possível de um processo de avaliação” para examinar a resposta sanitária internacional e as medidas tomadas pela OMS diante da pandemia.
A resolução proposta pela UE é uma tentativa de forjar um consenso que possa evitar o veto tanto dos EUA quanto da China. Os EUA, ao lado de aliados como a Austrália, vinham pedindo uma investigação sobre a conduta da OMS e a origem do novo coronavírus, mirando em Pequim.
Já o governo chinês denuncia uma “politização” da questão, enfatizando que o “paciente zero” da Covid-19 não foi encontrado e que “não é necessariamente” chinês. Na mensagem de vídeo desta segunda-feira, Xi Jinping afirmou que que é a favor de uma “avaliação completa” e “imparcial” da resposta global ao novo coronavírus, uma vez que que a pandemia esteja sob controle.
— Nenhum assunto foi evitado na resolução, como a reforma da OMS e, em particular, de suas capacidades que se mostraram insuficientes para evitar uma crise dessa magnitude — disse uma fonte diplomática europeia à AFP.
Nesse sentido, o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que será iniciada uma avaliação independente a respeito de como a organização está lidando com a pandemia, prometendo transparência e responsabilidade.
— Todos temos lições a aprender com a pandemia. Todos os países e as organizações devem examinar sua resposta e aprender com sua experiência. A OMS está comprometida com a transparência, a prestação de contas e a melhoria contínua — afirmou o diretor-geral.
Comissão independente elogia liderança
Tedros agradeceu aos participantes seu “forte apoio à OMS neste momento crítico” e disse que a avaliação deve incluir a responsabilidade de “todos os atores de boa-fé”.
— O risco continua alto, e temos um longo caminho a percorrer — afirmou.
Nesta segunda-feira, o órgão independente de supervisão da OMS informou que a instituição “demonstrou liderança” na resposta à pandemia e que seu desempenho deve ser avaliado, mas “não durante o ápice” da doença, o que poderia ser prejudicial. Em seu primeiro relatório, que abrange o período de janeiro a abril, o comitê sugeriu reformas, incluindo a introdução de um “nível ampliado de alertas” antes de declarar uma emergência internacional, e ainda alertou que “a crescente politização da resposta à pandemia” está impedindo a derrota do vírus, acrescentando que “a OMS não pode ter sucesso sem o apoio político global unificado”.
No início da tarde, o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca disse em comunicado que a ajuda de US$ 2 bilhões prometida pela China é uma forma de desviar as atenções do suposto fracasso de Pequim em “avisar ao mundo o que estava por vir”.
Fonte: O Globo