Quatro anos antes, Rita havia sido presa sob acusação de porte de drogas. Grávida do primeiro filho, ficou 10 dias na cadeia, paparicada pelas outras presas. Foi Elis Regina, a cantora de maior sucesso no Brasil, que armou um auê e conseguiu libertá-la.
À época, também não existia a Ancine (Agência Nacional do Cinema), fundada em 2021 no governo Fernando Henrique Cardoso, e que Bolsonaro, uma vez empossado, ameaçou extinguir, dizendo que desejava impor um “filtro” às produções:
“Se não puder ter filtro, nós extinguimos a Ancine”.
Acusou a agência de financiar “filmes pornográficos” e defendeu que o cinema brasileiro passasse a exaltar nossos “heróis”. A Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) já existia. Veio à luz no governo Collor, em 1991, perdendo relevância no de Bolsonaro.
O teto para a captação de recursos via Lei Rouanet foi reduzido de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão. Bolsonaro nunca foi ao cinema. E sempre o considerou um meio a serviço da subversão política e da demolição dos sacrossantos valores da família.
Um documentário sobre Chico Buarque deixou de ser exibido no Uruguai por ordem do Itamaraty. O chanceler Ernesto Araújo, à direita de Bolsonaro, se é que uma coisa dessas é possível, disse simplesmente que a obra não interessava ao governo.
Em uma entrevista de 1984, um ano depois que seis das 12 faixas do seu álbum “Bombom” foram proibidas, e duas vetadas no rádio e na televisão, Rita desabafou com muita exasperação, mas com uma dose de refinada ironia, uma de suas marcas:
“A censura não vai muito com a minha cara, nem eu com vou com a dela”.
No ano seguinte, interrompeu um show e bateu forte em Solange Hernandes, a chefe do departamento federal de censura:
“Há nove anos a senhora me censura. Venha tomar um cafezinho, quem sabe a senhora para de me prejudicar…”
Despediu-se da vida pública, em 2012, com um show em Sergipe, enfrentando policiais que revistaram a plateia à procura de drogas:
“Sou do tempo da ditadura. Vocês pensam que eu tenho medo?”
Estava com 64 anos. Foi detida e solta em seguida. Em maio de 2021, quando o Brasil já contabilizava 462.791 mortes e 16.545.554 casos do novo coronavírus, Rita foi diagnosticada com um tumor primário no pulmão esquerdo após exames de rotina.
Então resolveu homenagear Bolsonaro batizando de Jair o tumor que acabaria por matá-la.
Fonte: Metropóles